28 de set. de 2007

Bacalhau aromático

Para encontrar o melhor da gastronomia de Serra Negra é preciso vasculhar um pouco a região. Fazendo isso, achamos um dos mais saborosos restaurantes portugueses que conhecemos até hoje: A quinta portuguesa.
Para chegar lá é preciso sujar o carro por uns 10 minutos em uma estradinha de terra. No caminho, com um pouco de sorte é possível até avistar alguns tamanduás ou simplesmente admirar a paisagem das montanhas.

Ao embicar o carro na ladeira que dá acesso ao restaurante, o visitante perceberá que está, na verdade, entrando em um sítio. É que o seu João comprou a propriedade para ficar sossegado criando galinhas e cuidando da horta. Tempos depois resolveu aproveitar melhor o que o sítio rendia e abriu o restaurante. Experiência para isso não lhe faltava, já que ele é dono de um restaurante em Setúbal, Portugal, que hoje mantém arrendado.

E a competência do seu João é notada logo de cara, assim que o couvert chega à mesa. Por apenas R$ 4 por pessoa, o cartão de visitas traz pão caseiro, bolinhos de bacalhau, berinjela, azeitonas temperadas e dois sensacionais embutidos lusitanos: alheira e lingüiça portuguesa, ambos feitos lá mesmo, de forma artesanal.

Nos pratos principais, a casa oferece boa variedade de peixes na brasa, como sardinha portuguesa, pintado, atum e meca. Tem também alguns pratos especiais só para quem reserva com antecedência.
Nós ficamos com o clássico bacalhau a Gomes de Sá, receita em que o pescado em lascas é preparado com rodelas de batata, ovos, azeitonas pretas e bastante azeite (muito bem servido e com direito a salada de entrada, por R$ 55).

Por lá, o prato leva outros condimentos, como folhas de louro, que o tornam, além de delicioso, muito aromático. O detalhe é que todos os vegetais utilizados são cultivados no próprio sítio sem agrotóxicos, e isso vale até para o coloral que decorou nosso bacalhau.

Quando vimos que o pastel de Belém era a única sobremesa servida, ficamos um pouco decepcionados. Mas depois de provar o doce macio e cremoso, concordamos que seria besteira colocar algo para rivalizar com ele, que é outra maravilha preparada artesanalmente pelo seu João.

Sugestão do chef:a comida é ótima e as porções são bem fartas, por isso nada melhor que uma bebida para ajudar na digestão. A dica é o licor Beirão, cuja fórmula leva diversas plantas e sementes aromáticas. A fabricante portuguesa não revela que plantas são essas, mas nós revelamos que o licor é excelente.

A quinta portuguesa: Chácara Nogueira & Carvalho - Bairro das Tabaranas (a 5 min do Casco de Ouro) – Serra Negra – São Paulo – SP – tel.: (19) 3892-4980 / (19) 3892 6060

Acesse o mapa aqui

Funcionamento:

Sextas-feiras: só no jantar
Sábados: almoço e jantar
Domingos: só no almoço
Fecha nos outros dias.

27 de set. de 2007

Cidade da saúde

Assim é conhecida a estância hidromineral e climática de Serra Negra, que ganhou esse apelido por conta das diversas fontes de água mineral e do ar puro que é notado logo no começo da subida da serra. Também é uma das cidades que formam o circuito das águas.

Distante 153 km de São Paulo, sua altitude varia entre 927 metros no centro e 1310 metros nos vales. A temperatura é amena no início da manhã e à noite, porém o resto do dia costuma ter sol e céu azul.


Serra Negra é uma das cidades do interior paulista onde o turismo é forte. Isso acontece pela soma do excelente clima com o intenso comércio local. Artigos de madeira, lã, malha e couro são encontrados por todas as estreitas ruas do centro e fazem a alegria dos turistas, em especial das mulheres.

E disso eu posso falar bem e já aviso: a quantidade de bolsas, sapatos, malhas, tricô e roupas é de enlouquecer. Impossível sair de lá com as mãos vazias. Sem falar nos objetos de decoração (artesanatos, quadros, cristais, crochê...) e todas essas quinquilharias que a gente sempre arruma um cantinho vazio em casa para colocar.
Mas como este blog foca a gastronomia, vamos ao que interessa.
Existem muitas lojinhas repletas de guloseimas e produtos caseiros de fabricação local, como queijos dos mais diferentes tipos, patês, embutidos, antepastos, bolachas, licores, cachaça, compotas, geléias, doces, pimenta e mel. E a melhor parte é que os ingredientes são de alta qualidade e os preços acessíveis. Dá pra comprar de tudo um pouco por preço justo, diferente de São Paulo onde produtos artesanais costumam custar mais caro.

Simplicidade é a palavra que melhor define a gastronomia local. Os bares e restaurantes não investem muito na decoração dos estabelecimentos e na apresentação dos pratos, mas isso não interfere na boa comida servida em grande parte deles.

Notamos, inclusive, que a cidade começa a se desenvolver nesse assunto. Cafés gourmet e lojas de chocolates finos já são vistos com mais freqüência e o preço médios das refeições também aumentou consideravelmente. Ainda assim não dá para comparar, por exemplo, com Campos do Jordão, cujos restaurantes são, em grande maioria, voltados para a gastronomia internacional. Em Serra Negra isso não acontece, o lugar é rústico.
Mas isso não é ruim, pelo contrário. Andar por lá é o mesmo que voltar ao passado, relembrar a infância e rever algumas coisas saudosas como esse sorvete tirado em uma máquina que eu não via há pelos menos uns 10 anos.


Durante a curta estada não deu para conhecer tudo que prevemos, principalmente porque descobrimos lugares legais que não estavam no roteiro. Claro que voltaremos para ir em todos eles. Os próximos posts serão dedicados aos que visitamos dessa vez.

Sugestão do chef: a rede hoteleira da cidade é muito boa e variada, atendendo a todos os gostos e bolsos. É possível ficar no centro, em bairros próximos, na montanha e até nas cidades vizinhas. A escolha depende do que se pretende fazer por lá e da estrutura dos hotéis. O melhor é consultar o site da cidade e escolher pelo que melhor se enquadra ao seu perfil.

23 de set. de 2007

Gastronomia e cultura paulista

No último dia 16 terminou a XI edição do Revelando São Paulo – Festival de Cultura Paulista Tradicional, que acontece anualmente no arborizado Parque da Água Branca.



O evento, organizado e produzido em parceria pela Secretaria de Estado da Cultura e a ONG Abaçaí Cultura e Arte, reuniu artesanato, comidas típicas, apresentações folclóricas e manifestações artísticas e religiosas de 180 municípios paulistas.


Infelizmente só pudemos comparecer no último final de semana, justamente os dias de maior público. Por isso não deu para ver, experimentar e fotografar tudo o que gostaríamos, já que a oferta de entretenimento era grande.
E como a gastronomia sempre fala mais alto, gastamos boa parte do nosso tempo em meio às diversas barracas de comidas típicas. Era tanta coisa boa que foi muito difícil decidir o que comer. E mais difícil ainda ter de ir embora sem conseguir provar muitas delas por pura falta de espaço no estômago.



Não é fácil ver uma porção dessas iguarias aqui na capital, o que torna o evento ainda mais atraente.
Abaixo está o resumo que preparamos para mostrar um pouco do que vimos por lá, dividido por cidades.

São Roque

Por R$ 2 era possível provar um copo de vinho artesanal, mas o calor de quase 30º nos forçou a ignorá-lo e ficar com o copo do suco de uva do Frade, pelo mesmo valor.


Mais aguado do que gostaríamos, serviu apenas para nos refrescar um pouco.

Barra do Turvo
Um dos melhores petiscos que experimentamos foi o pastel caipira (R$ 1,50).


A massa leva apenas farinha de milho e água, daí a cor amarelada e a textura semelhante a da polenta. A carne do recheio estava bem temperada e combinou com a massa.

Eldorado
O chips de banana (R$ 2 o pacote) é uma espécie de aperitivo feito com finas lascas de banana verde frita.

Pode ser doce (polvilhado com açúcar refinado e canela em pó) ou salgado (polvilhado com sal).

Buri
Sem dúvida a barraca mais animada que vimos. A simpatia das senhoras de Buri chamou nossa atenção.

Aliás, vale ressaltar que as pessoas que vivem no interior de São Paulo costumam mesmo ser alegres, prestativas, tranqüilas e animadas. Bem diferente de boa parte dos paulistanos.

E o bolinho de mandioca com carne (R$ 1) estava tão bom que não resisti e trouxe uma bandeja para fritar em casa.

Atibaia
No estande de Atibaia o destaque ficou por conta dos virados. Optamos pelo de ervilha, prato típico da cidade, que vinha com arroz, lingüiça, salada de alface e tomate (R$ 6).


Acertamos na escolha pois ele consegue ser tão bom quanto o tradicional de feijão.

Charqueada
Cachaça, rapadura, açúcar mascavo e melado de cana eram os únicos produtos dessa barraca.


E o que atraiu nossa atenção foram as rapaduras com cidra, gengibre ou abóbora. Três pedaços pequenos por R$ 2.

Caraguatatuba
Por ser uma cidade litorânea, sua gastronomia destaca os frutos do mar. Foi impossível passar direto ao ver os belos mariscos e, principalmente, o tamanho da panela onde era preparado o cheiroso risoto de camarão (R$ 8).


Mas como nem tudo que reluz é ouro, foi a nossa grande decepção do dia. O tempero estava tão forte que não conseguimos comer todo o prato.

São Francisco Xavier
E para compensar nossa desilusão com o risoto de camarão, nos esbaldamos com muitos copos de suco de limão do mato (R$ 1,50), uma das melhores descobertas desse evento.


Extremamente cheiroso e com gosto semelhante ao do limão Siciliano, o suco é leve, saboroso e refrescante. Perdemos a conta de quantos copos tomamos.

Jundiaí
O calor continuava forte e por isso não nos animamos mesmo com a oferta de vinhos artesanais.

Mas o suco de uva integral Pérgola estava tão cheiroso que resolvemos comprar um copo (R$ 2). Encorpado, sem adição de açúcar e levemente gelado, agradou tanto nossos paladares que voltamos para casa com uma garrafa de 500 ml.

Monteiro Lobato
Cocada mole, doce de abóbora com coco, doce de leite, doce de figo.

Tantas opções apetitosas que a vontade era comer um pouco de cada, mas acabei decidindo pelo arroz doce (R$ 1).

Duartina
Interior paulista é sinônimo de milho: pamonha, bolinho de milho, curau, doce de milho com coco, espiga de milho cozida. Milho de todos os jeitos e para todos os paladares.

Provamos e aprovamos o curau (R$ 2).

Capivari
Em uma barraca escondida estava uma das comidas que eu mais gosto: cuscuz paulista. Nas versões de camarão, sardinha ou legumes, tive outra grande dificuldade na hora da escolha. Fiquei com o de camarão (R$ 4) e não resisti em petiscar o de sardinha (R$ 3).


Ambos muito gostosos, mas prefiro a receita da mãe do Fernando, que capricha na azeitona.

Sugestão do chef: o Revelando São Paulo é um evento anual que acontece geralmente no mês de setembro. Para os próximos anos vale a pena acompanhar a agenda cultural de São Paulo e conferir em quais datas ele acontecerá. Caso tenha disponibilidade, evite os dias mais cheios visitando o evento durante a semana. Com o público menor dá para conversar bastante com os expositores, pegar dicas turísticas e até conseguir as receitas dos pratos e petiscos saboreados.

Parque da Água Branca (Parque Dr. Fernando Costa): Av. Francisco Matarazzo, 455 – São Paulo – SP
Abaçaí Cultura e Arte – Organização Social de Cultura: Rua Cásper Líbero, 390, conj. 610 – Tel.: (11) 3311-8887

22 de set. de 2007

A melhor pizza de São Paulo

O último ato da nossa já citada comemoração gastronômica foi na melhor pizzaria que nós conhecemos: a Bráz.


Quem já foi sabe que do pão de calabresa até a borda do último pedaço de pizza, tudo o que é servido em qualquer uma das três unidades beira a perfeição.
Sempre que vamos lá saímos com a impressão de que nenhum ingrediente do molho, da massa ou da cobertura foi adicionado sem que existisse uma razão muito clara da sua função. Um verdadeiro show.


Para minimizar a dificuldade em definir o pedido, optamos logo por uma redonda de três sabores. Caprese, que é descrita como a mais premiada criação da pizzaria, foi a escolha mais simples. Ela traz, sobre uma base de mussarela, fatias de tomate caqui, rodelas de mussarela de búfala artesanal, folhas de manjericão gigante e um delicioso pesto de azeitonas pretas (R$ 38,50 a média e R$ 43 a grande).

A segunda escolha foi pela Provençal, que leva rodelas de tomate, berinjela e abobrinha marinadas em alho e azeite, sobre mussarela especial perfumada com tomilho fresco (R$ 33,50 a média e R$ 37,50 a grande).


A escolha do último terço não foi das mais fáceis, mas concordamos em experimentar a Affumicata, pizza que não leva molho de tomate. Consiste em mussarela especial, tomate caqui, mussarela de búfala defumada, azeitonas pretas e um toque especial de folhas frescas de sálvia e de alecrim (R$ 33,50 ou R$ 37,50, dependendo do tamanho). Saborosa e aromática.


O vinho em taça que escolhemos não se mostrou à altura das pizzas, deveríamos ter ficado no chopp tirado com a qualidade do bar Original, dos mesmos sócios. Mas depois da pizza, isso não passa de mero detalhe.

Sugestão do chef: quase tão delicioso quanto as pizzas é o livro “Bráz – Pizza Paulistana”, do crítico gastronômico Saul Galvão (132 págs., em torno de R$ 60). Com fotos tiradas em duas unidades da Bráz, a obra conta um pouco da história da pizza em São Paulo, com direito a algumas receitas.

Bráz Pizzaria:
Rua Sergipe, 406 - Higienópolis - Tel: (11) 3231-1554 (referência deste texto)
Rua Vupabussu, 271 - Pinheiros - Tel: (11) 3037-7975
Rua Graúna, 125 , Moema - Tel: (11) 5561-0905

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