31 de jan. de 2010

Vale a pena seguir a vaca?

Durante o planejamento da viagem para Buenos Aires, deparamos com muitos comentários – positivos e negativos – sobre a casa de parrilla Siga la Vaca.
Lendo tais críticas, ficamos com vontade de conhecer o local, mas, ao mesmo tempo, não estávamos certos se seria a melhor decisão. Principalmente porque a filial mais conhecida fica em Puerto Madero, região cheia de outros bares e restaurantes estilosos. E talvez fosse melhor chegar lá sem um local pré-definido.

Escolhemos fazer uma caminhada diurna por alguns trechos do porto, e, por fim, fomos matar nossa curiosidade.
De fora já achamos as instalações do Siga la Vaca muito bonitas, assim como a dos demais estabelecimentos na região.

A primeira surpresa foi notar que, em plena quarta-feira, um restaurante daquele tamanho estava bem cheio durante o almoço. Entramos para ver o que atraía tanta gente e logo descobrimos: o preço.

A casa funciona no sistema all inclusive. De segunda a sexta-feira o almoço custa 45 pesos por pessoa, o equivalente a uns 23 reais. Aos finais de semana e feriados, bem como nos jantares, o preço por pessoa é de 69 pesos. Nesse valor estão inclusos buffet de saladas e pratos frios, carnes e seus acompanhamentos e uma sobremesa, além da bebida, que pode ser água, cerveja, refrigerante ou mesmo garrafa de vinho, mas sem direito a escolha do rótulo – uma carta de vinhos está à disposição de quem topar pagar à parte.
Optamos pelo vinho tinto incluso na conta e nos foi servido o Pont L'évêque Malbec 2009, bem inferior, como já prevíamos: tinha gosto de álcool! Certamente uma cerveja teria caído muito melhor.

Vinagrete, chimichuri e batatas fritas foram colocados em nossa mesa enquanto nos servíamos no buffet de saladas, que não empolgou muito.

Diferentemente do rodízio da maior parte das churrascarias brasileiras, as carnes não são trazidas à mesa. As pessoas é que se dirigem até a parrilla e por lá se servem. Em caso de dúvida, os parrilleros explicam de que se trata cada corte – também em português, já que os brasileiros parecem ser os maiores frequentadores do local.

A variedade de carnes é boa. Provamos frango, bife de chorizo, vacio (fraldinha), chorizo (lingüiça), tapa de cuadril (picanha) e morcella. São servidos ainda cortes de carne de porco e diversos miúdos.

De sobremesa, a Mousse de Chocolate estava gostosa, mas o Vulcán de Chocolate com Helado – igual ao petit-gateau – trazia fortes indícios de ser industrializado.

O custo-benefício do local é incontestável, porém, em se tratando de Buenos Aires, as carnes deixam muito a desejar. Podemos compará-las com as servidas nas churrascarias intermediárias paulistanas, e que nem de longe se parecem com qualquer outra carne que provamos na capital argentina. E olha que não foram poucas!

Sugestão do chef: além da unidade em Puerto Madero, o Siga La Vaca conta com mais 5 endereços na Argentina, dois deles são destinados a lanches e comida rápida.

Siga la Vaca: Alicia Moreau de Justo 1714, Puerto Madero – Buenos Aires – Argentina – Tel: (54 11) 4315-6801 / (54 11) 4315-6802

28 de jan. de 2010

Bife de chorizo na Recoleta

No segundo dia na capital argentina, o tempo ensolarado nos deu ânimo para pegar o Buenos Aires Bus e conhecer alguns dos mais visitados locais da cidade.

O ônibus turístico custa 50 pesos por pessoa, traz explicações em 10 idiomas e permite visitar 12 pontos, reembarcando quantas vezes desejar. É boa alternativa para ter uma visão geral de Buenos Aires e passar por lugares que merecem ser vistos mas que talvez não justifiquem uma parada, como a Torre Monumental (conhecida como Torre dos Ingleses) na praça Fuerza Aérea Argentina.

Já passava um pouco do horário do almoço quando paramos em La Boca para visitar o Caminito. Rua minúscula é igual a passeio rápido, portanto, logo estávamos livres para almoçar.

Acontece que desanimamos totalmente com as opções de bares e restaurantes daquele pedaço, principalmente porque quase todos colocam alguém pra caçar os turistas na rua garantindo ter “la mejor cerveza”, entre outras coisas maravilhosas. Apelativo (e irritante) demais.
Por isso, mesmo com a barriga vazia decidimos seguir para o estádio La Bombonera, casa do Boca Juniors. Fica a apenas algumas quadras de onde estávamos, mas fomos aconselhados por um artista local a seguir de táxi, já que as ruas no miolo do bairro não são lá muito seguras – assim como boa parte daquela região na parte sul de Buenos Aires.
Por 35 pesos visitamos o Museo de la Pasión Boquense, do qual os cronistas esportivos brasileiros costumam falar maravilhas. Mas pelo jeito eles não devem ser assíduos frequentadores de museus, caso contrário não se impressionariam tanto. O espaço apresenta alguns dos troféus conquistados, fotos de todos os jogadores que já atuaram pela equipe azul e amarela, objetos históricos como uma camisa usada por Diego Maradona e um ótimo acervo digital com lances de partidas históricas. Bacana, mas nada além disso.
A melhor parte é a visita ao estádio. Mesmo vazio, dá pra ter uma ideia da pressão que deve ser jogar em um gramado bem mais colado às arquibancadas do que a maioria dos campos brasileiros.

Com o tour, o tempo passou rápido. Já eram quase 4 da tarde e nossa fome estava desesperadora. Pra piorar, os restaurantes mais próximos, como o Don Carlos, já tinham fechado as portas. Por sorte, conseguimos um táxi pilotado por um senhor bem simpático que nos deu a dica de que encontraríamos vários restaurantes abertos na Recoleta. Cruzamos a cidade até lá e achamos o La Chacrita.

E que ótimo achado! Ambos optamos pelo menu executivo (52 pesos cada) que contava com quatro opções de entrada, prato principal e sobremesa. Também incluía uma taça do bom Norton Malbec.

Pedimos exatamente tudo igual: meia provoleta con chorizo (linguiça), bife de chorizo, e ainda fomos surpreendidos pelas cortesias: pães, caprichadas empanadas de carne, salada e purê de batatas.

Apesar de nossas escolhas terem sido simples, a carne estava absolutamente saborosa, uma das melhores parrillas da viagem.
Flan e salada de frutas encerraram nosso tardio, mas ótimo almoço.


Sugestão do chef: menus executivos como esse do La Chacrita são muito comuns em Buenos Aires. Em geral, são ótimos para comer bem, pagando pouco: custam em torno de 50 pesos (mais ou menos 25 reais) e costumam ter como prato principal algumas das especialidades argentinas, como os cortes típicos de carne.

La Chacrita: Junín, 1721 – Recoleta – Buenos Aires – Argentina – Tel.: (54 11) 4803-9791/(54 11) 4809-0351

25 de jan. de 2010

Buenos Aires além do vinho

Claro que os vinhos entrariam no nosso cardápio em Buenos Aires, mas não precisaria ser no primeiro dia. Antes de sair para jantar, disse pra Débora que tinha só uma preferência em relação ao cardápio: cervejas artesanais de produção local. Então, nos dirigimos para as agradáveis ruas de Palermo, bairro em que ficamos hospedados, e fomos parar em uma das franquias da Cerveceria Antares, a mais famosa produtora de versões especiais da bebida na Argentina, nascida em 1998 na cidade de Mar del Plata.
O ambiente por lá é moderno (e escuro também) como toda aquela parte de Palermo. Há algumas mesas na calçada, música pop argentina no som ambiente e um bar bem imponente.

Por 20 pesos (em torno de R$ 10), é possível degustar os sete estilos produzidos o ano todo, além de uma edição limitada. Tudo em copos pequenos pra ninguém sair de lá tropeçando em uma das descoladas garçonetes.

Uma cesta com pães variados ajudou a limpar o paladar entre uma cerveja e outra.

Segui a orientação de iniciar pelas cervejas claras e logo provei a levíssima Kolsh, estilo criado na cidade alemã de Colônia. Na sequencia, Honey Beer, cujo mel adicionado dá um toque bem diferente e um pouco doce. Amargor mesmo só comecei a perceber com a Scotch. Mas estava curioso era pra provar a Doppelbock, a tal da edição limitada que passa por um processo de maturação de 30 dias acondicionada sob baixas temperaturas. Tudo para equilibrar os sabores. O resultado é uma cerveja bem encorpada, mas com um leve sabor adocicado. Bem diferente.
A essa hora já não sabia mais qual era minha preferida. E ainda faltava degustar três estilos. A Cream Stout, com aroma e sabor de chocolate arrancou elogios da Débora. Já a Porter e a Imperial Stout, ambas com gosto de malte torrado, só foram elogiadas por mim.
O que agradou a ambos, sem restrições, foram os pratos. A Cazuela de Lomo (32 pesos) impressionou com a bela apresentação. É algo como um picadinho de filet mignon cozido na cerveja Porter e coberto de batata em pedaços. Muito saboroso e com a medida certa de condimentos.

Minha escolha foi Pechuga Rellena (37 pesos), um peito de frango assado e recheado com mussarella, queijo gruyere e tomate seco, acompanhado de alface frisée, batatas rústicas e um molho delicioso. Sabor sensacional, e olha que tínhamos ido só pra beber cerveja.


Sugestão do Chef: a Antares mantém bares espalhados por diversas regiões da Argentina. Além de Buenos Aires e Mar del Plata, é possível provar as ótimas cervejas artesanais em lugares como Bariloche, Mendoza e Rosário.

Cerveceria Antares: Armenia, 1447 – Palermo – Buenos Aires – Argentina – Tel.: (54 11) 4833-9611

6 de jan. de 2010

Um domingo em San Telmo

Nosso primeiro dia em Buenos Aires foi um domingo, por isso já tínhamos definido o tradicional bairro de San Telmo como destino do passeio inaugural pela cidade.


É que esta é a data da tradicional feira que acontece por lá, um ótimo momento para conhecer melhor a cultura local, ouvir as apresentações ao ar livre de grupos musicais e, claro, comprar um pouco de tudo.

O endereço original é a Plaza Dorrego, onde a feira de San Telmo se originou com a venda de antiguidades. Hoje é bem mais do que isso e se estende por toda a Calle Defensa, rua que começa ao lado da Plaza de Mayo. Por essa razão, quem vai à feira pode aproveitar para conhecer a Casa Rosada. Foi exatamente o que fizemos, uma pena o museu que funciona no local estar fechado, em reforma para os 200 anos da Revolução de Maio – assim como o Teatro Colón e alguns outros prédios públicos.

Ao sair da sede do governo argentino, começamos a percorrer a rua Defensa e, ainda satisfeitos com as “medialunas com dulce de leche” do café da manhã, resistimos à tentação de entrar na fila do churipan (o pão com lingüiça deles).

Depois de muito olhar a infinidade de objetos expostos, encontramos uma simpática moça que vendia tortas e bolos feitos com massa integral. Escolhemos na hora uma torta de abóbora com queijo e semente de girassol. Deliciosa!

Era o que precisávamos para seguir com energia por mais algumas das muitas quadras ocupadas pela feir...(ona!). No trajeto, em meio aos expositores e às lojas de antiguidades, fomos avistando diversos restaurantes e bares bem interessantes. Nossa paixão à primeira vista por San Telmo só se confirmava... Até que entramos no meio de uma bagunça deliciosa! Era uma legião de portenhos pulando ao som de uma certa banda de rock, turistas de várias partes perguntando o preço dos produtos nas barracas, casais vestidos com trajes de época posando para fotos... bastou olhar para a placa e confirmar: finalmente estávamos na Plaza Dorrego. Ali, sim, são comercializados quase que exclusivamente objetos antigos.

É engraçado de ver, dá uma certa sensação de que voltamos no tempo. Pode ter sido o começo de tudo, mas, na nossa opinião, está longe de ser o trecho mais interessante da feira dominical.
O fato é que já tínhamos visto tudo, mas ainda não estávamos com uma fome que justificasse encarar pratos mais consistentes, apesar da grande oferta de menus executivos a preços atraentes. Por essa razão, não pensamos duas vezes quando vimos a possibilidade de petiscar alguma coisa acompanhada de cervejas artesanais argentinas. Garantimos logo uma mesa no Patio Cervecero.

Com apenas dois garçons tendo que dar conta de todo o movimentado salão, quase foi preciso implorar pelo cardápio. Quando chegou, logo decidimos que as empanadas seriam a estrela principal do nosso primeiro almoço em Buenos Aires. A Débora pediu um combo com duas de carne suave mais chope Quilmes por 16 pesos (em torno de 8 reais).
Eu resolvi provar empanadas típicas de três diferentes regiões. Cada uma custa 4 pesos e traz diferenças sutis na receita.

A Jujeña leva carne picada, cebolinha, pimenta Ají, tomate e ovo cozido. Já a Salteña é feita com carne cortada na ponta da faca, batata, azeitona, cebolinha, ovo cozido e pimenta Ají. E, por último, a Mendoncina, com carne picada, cebola, ovo, azeitonas pretas e cebolinha. As três, assim como as de carne suave, estavam bem oleosas, o que não é uma regra na Argentina, como veríamos mais tarde. No entanto, precisamos confessar que o sabor estava sensacional!
A Débora já bebericava sua refrescante e sempre boa Quilmes enquanto eu ainda tentava escolher uma cerveja desconhecida. A demora tem pouca relação com o número de opções do cardápio e muita com o fato de algumas estarem em falta naquele dia. Terminei por escolher a Otro Mundo do tipo strong red ale, feita em Santa Fé pela San Carlos Brewery. Frutada e com o sabor adocicado do malte bem perceptível, estava excelente! Valeu, de longe, os 16 pesos. Para o começo da viagem, não poderia ter sido melhor.

Sugestão do chef: além de empanadas e opções para petiscar, o Patio Cervecero apresenta boa variedade de pratos, incluindo alguns da cozinha mexicana. Assim como diversos outros restaurantes em Buenos Aires, também serve pizza na pedra desde a hora do almoço.

Patio Cervecero: Defensa, 1084 - San Telmo – Buenos Aires - Argentina. Mais dois endereços. Tel.: (54 11) 4307-2211/ (54 11) 4307-2384
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